Codename Anastasia - Novel - Capítulo 23: Crepúsculo: O único quarto
Lago Baikal, o coração verde da Sibéria,possui uma longa história que se estende por 25 milhões de anos. Sua área ultrapassa 31.500 quilômetros quadrados, com um diâmetro de 636 quilômetros e uma circunferência de 2.200 quilômetros. Há 22 ilhas nesse imenso lago, sendo a maior e única habitada a Ilha Olkhon.
Para chegar à Ilha Olkhon, é preciso escolher bem o momento, pois a travessia só é permitida no inverno, quando a superfície do lago congela completamente, ou no meio do verão, quando o gelo derrete por completo. No verão, os viajantes podem atravessar de barco, mas no inverno é possível cruzar diretamente de carro.
Zhenya avançava velozmente pela extensão congelada do lago. A superfície de gelo era irregular e exigia desvios, mas ele teimosamente seguia em linha reta. Como resultado, o carro tremia sem parar. Mesmo diante desse cenário, Kwon Taek Joo não reclamava e permanecia em silêncio. À primeira vista, parecia que o carro deslizava sobre uma estrada, mas, na realidade, estavam sobre uma camada de gelo cobrindo águas tão profundas que nem se podia medir. Ainda que o gelo fosse espesso, a tensão em seu peito era inevitável.
Felizmente, nenhum acidente preocupante ocorreu até que os dois chegaram ao píer da Ilha Olkhon. Nem mesmo o mundialmente famoso Lago Baikal conseguia escapar do frio extremo de -50 graus Celsius.
Kwon Taek Joo saiu do carro por um momento e olhou para trás, observando o caminho que haviam percorrido. O mundo coberto por neve branca permanecia em um silêncio absoluto, como se estivesse morto. Tudo parecia ter parado no tempo.
Ele não sabia se estava simplesmente deslumbrado pela beleza da paisagem diante de seus olhos, mas, por um instante, sua mente ficou vazia, incapaz de sentir ou pensar em qualquer coisa.
Do ponto onde estava até o píer, não havia um caminho propriamente dito. Apenas marcas de pneus deixadas pelos veículos que passaram antes, espalhadas em todas as direções. O lugar onde se anda se torna o caminho. O carro deles também inaugurou uma nova rota, atravessando a neve intocada.
O alvo estava há algum tempo em algum ponto ao noroeste da Ilha Olkhon. Seguindo a trilha do ponto vermelho piscante no rastreador, Kwon Taek Joo avistou uma vila ao longe. Era menor que a Mansão Bogdanov, mas tinha um visual marcante, especialmente considerando o tamanho da ilha.
O carro estacionou próximo à vila. O ponto vermelho do rastreador e o local coincidiam completamente. Estava claro que Hong Yeo Wook estava lá.
Kwon Taek Joo inclinou o rosto entre os bancos do motorista e do passageiro, observando atentamente a vila.
“É ali?”
“Talvez.”
Os dois verificaram as câmeras de segurança instaladas em todos os cantos. Não havia nenhum ponto cego.
Kwon Taek Joo olhou para Zhenya com uma expressão confusa. Por que não fazer nada? Será que ele realmente não sabia?
A vila estava localizada em um terreno elevado na Ilha Olkhon. Abaixo dela, um penhasco íngreme se estendia. O vento que soprava ao redor da ilha empurrava constantemente a borda do precipício. Isso significava que uma invasão pelo alto era impossível. À primeira vista, não havia dutos de ar ou aberturas de ventilação que permitissem a entrada. Câmeras de vigilância estavam posicionadas estrategicamente no portão principal e ao longo dos muros, algumas equipadas com armas eletrônicas controladas remotamente.
“Você viu isso e ainda pergunta? Por acaso tem nove vidas?”
Kwon Taek Joo foi sarcástico de propósito, mas Zhenya simplesmente ergueu o queixo, com um olhar arrogante. Viu só? Aquilo não era um elogio. Ele tentou protestar com a expressão, mas foi inútil. Rapidamente desviou o olhar do bastardo que expandia os ombros com orgulho. Vê-lo tão cheio de si só o deixava constrangido.
“Já sabemos onde Hong Yeo Wook está, e isso basta. Seria loucura atacar diretamente, então acho melhor analisarmos a situação ao redor primeiro.”
Zhenya apenas respondeu “Ok”, girou o volante e começou a dirigir para algum lugar sem mencionar o destino. Nem sequer usava o GPS, mas parecia conhecer o caminho sem hesitação. Ele realmente estava familiarizado com a geografia da região.
Kwon Taek Joo observou o ponto vermelho no rastreador se afastando cada vez mais quando, de repente, o carro inclinou para o lado, parando abruptamente em uma encosta. Será que um animal havia saltado na estrada? Ele se endireitou no assento, tentando entender. Zhenya então abriu a porta do carro.
“LH24.”
As palavras seguintes tornaram tudo ainda mais confuso. Ele estava pensando em montar acampamento ali? Kwon Taek Joo olhou ao redor, mas não viu ninguém. Quando Zhenya caminhou até o porta-malas, pronto para fechá-lo, hesitou por um instante ao notar seu olhar inquisitivo, como se estivesse implorando por uma explicação. Então, inclinou-se para provocá-lo.
“Não vou te comer, então sai do carro.”
Aproveitava qualquer chance para provocá-lo. Kwon Taek Joo não conseguiu ficar calado ao ouvir aquilo. Resmungando, ele saiu do carro. O vento forte, que não sentia dentro do veículo, atingiu-o de todos os lados. Vestindo apenas uma camisa leve e um casaco, seus ombros se encolheram automaticamente. Ele trincou os dentes, pois parecia que, se abrisse a boca, eles colidiriam de tanto frio. A essa altura, era um milagre seu coração não ter congelado.
Enquanto isso, Zhenya tirou um casaco de pele do porta-malas e o vestiu. Mesmo se caçasse um animal vivo e o esfolasse, nada se compararia à pelagem daquele casaco. Enquanto Kwon Taek Joo se agarrava à porta do carro, sem se mover, Zhenya passou por ele e seguiu adiante. Pouco depois, notando que ele não o acompanhava, voltou para buscá-lo. Diante daquela insistência silenciosa, ele finalmente começou a segui-lo, passo a passo.
Escalar uma colina coberta de neve não era fácil, especialmente enfrentando o vento forte que soprava do topo. A cada tentativa de avançar, seus pés escorregavam na neve, fazendo-o cair. Ele estava sem fôlego, respirando ofegante, mas o vento congelante e os cristais de gelo suspensos no ar dificultavam ainda mais a respiração.
Recordando seus dias na equipe das forças especiais, Kwon Taek Joo sabia que precisava superar qualquer obstáculo. Não demorou para entender as intenções de Zhenya. Ali, ao pé da colina, havia uma hospedaria. O número de quartos não parecia grande, mas considerando a situação, qualquer opção era bem-vinda.
Enquanto ainda hesitava, uma rajada de vento cortante o atingiu. Como um animal sendo levado ao abatedouro, ele passou por Zhenya e entrou rapidamente na hospedaria. O dono estava na recepção, observando com estranheza o desconhecido que invadia seu estabelecimento, vestindo apenas uma camisa fina e um curativo na cabeça, no meio do frio implacável.
“Como chegou aqui?”
“Qu… quarto…”
“Fez uma reserva?”
Naquele momento, os lábios de Kwon Taek Joo ficaram rígidos, e ele gaguejou como se estivesse diante de um fantasma. Tremia e mal conseguia responder.
“Não. Não fiz uma reserva. Ainda há quartos disponíveis?”
“Como é inverno, ainda há vagas, mas exigimos 100% de reserva antecipada. Um quarto basta, certo?”
“Não. Dois. Precisamos de dois quartos.”
Kwon Taek Joo enfatizou repetidamente. Para garantir que o dono da hospedaria entendesse sua pronúncia, ele estendeu o indicador e o dedo médio. Ele não queria, de forma alguma, ter que dividir um quarto com Zhenya novamente. Se fosse em combate e não houvesse alternativa, ele suportaria. Mas quando se tratava de descanso, queria pelo menos sentir algum conforto.
No entanto, a reação do proprietário não foi muito animadora. “Ah,” suspirou baixinho. Um olhar de pena foi dirigido a Kwon Taek Joo. Não, provavelmente era só impressão dele. Devia ser isso. Todos os seus nervos estavam concentrados nos lábios do atendente, esperando pela resposta.
Nesse instante, a porta se abriu e Zhenya entrou. O casaco de pele movia suas fibras delicadamente, como se ainda estivesse vivo. E então, veio a resposta desanimadora do dono da hospedaria:
“Restou apenas um quarto.”
O quarto designado era extremamente estreito. Havia uma mesa para duas pessoas logo à entrada e, ao lado, uma única cama. E era só isso. Não havia frigobar, guarda-roupa ou sequer um local adequado para armazenar bagagens. A única vantagem era que a cama era beliche.
Os dois se sentaram frente a frente em silêncio por um longo tempo. Kwon Taek Joo olhou ao redor e, sem motivo aparente, fixou o olhar em um canto do quarto.
Ele pensou que, ao descer do trem, finalmente não precisaria mais compartilhar espaço com Zhenya. Bastava conseguir um quarto individual e ser paciente por mais algum tempo, já que não cruzaria mais a fronteira de trem. Mas, no fim, os dois ainda teriam que conviver por mais alguns dias naquele espaço apertado.
Mentalmente e fisicamente esgotado, Kwon Taek Joo só queria fechar os olhos por um momento, mas estar perto daquele rapaz não o deixava em paz.
A bebida em sua xícara já havia esfriado completamente. Ainda não havia nada a ser dito entre os dois. O clima, que começou como um desconforto, aos poucos tornou-se pesado.
Kwon Taek Joo sabia como ser prático. Bastava confiar em Zhenya. Suas palavras, ações e pensamentos eram todos incomuns, mas ele não sabia o que Zhenya faria em seguida, então não poderia traí-lo. Mesmo racionalizando isso várias vezes, balançou a cabeça. Falar era fácil, mas confiar era outra história.
Seus instintos mantinham-se alertas. Kwon Taek Joo inconscientemente monitorava cada movimento de Zhenya, buscando qualquer brecha. E foi assim que rapidamente se cansou de estar ao lado dele, mesmo sabendo que agora estavam no mesmo time.
Será que era porque ele era um adversário que Kwon Taek Joo não conseguia derrotar? Sempre que Zhenya fazia algo inesperado, seu coração acelerava. E agora, mesmo sendo colegas, ele não fazia ideia de quando ou como Zhenya arrancaria sua máscara.
Desde que se tornou agente, Kwon Taek Joo conheceu pessoas de todas as origens. Por conta de interesses complexos, muitos acabavam se tornando calculistas, mas raramente alguém era completamente cruel. Cada um possuía suas próprias convicções e agia de acordo com elas—o problema era que, muitas vezes, a justiça de uns significava a injustiça de outros.
Mas Zhenya era diferente. Ele dizia que teria um lucro gigantesco se conseguisse “Anastasia”. No entanto, na realidade, não parecia ser controlado por dinheiro ou poder. Mesmo quando balas de verdade eram disparadas, sem poder descansar adequadamente e em uma perseguição exaustiva sem resultados concretos, ele ainda parecia se divertir.
Zhenya era como uma criança viciada em jogos de espionagem. Ele não se importava com quanto aquilo custava ou quantas vidas eram perdidas. Sua única preocupação era a emoção.
Quando seu interesse se dissipasse, ele recuaria sem misericórdia. Para encerrar tudo rapidamente, ele poderia muito bem apontar a arma para Kwon Taek Joo sem hesitação.
Por isso, cada dia, cada hora, cada minuto ao lado de Zhenya era como andar sobre gelo fino.
“Consigo ouvir você revirando os olhos daqui.”
Zhenya de repente tocou um ponto fraco. Doeu, mas Kwon Taek Joo não demonstrou.
“Estou apenas tentando organizar meus pensamentos. Isso e aquilo…”
Ele fingiu não saber e inventou desculpas que não eram realmente desculpas. Zhenya acenou em um falso “Ah ha”. O sorriso sarcástico permaneceu em seus lábios. Seu rosto era tão bonito que Kwon Taek Joo acabou olhando para ele naturalmente, mas, quando seus olhares se encontraram, ele sentiu algo estranho.
Isso se devia ao olhar penetrante de Zhenya. Era como um réptil estreitando as pupilas e observando obsessivamente cada expressão, cada movimento dos olhos e cada ação. Se continuasse sendo analisado daquele jeito, parecia que todos os seus pensamentos seriam expostos.
Kwon Taek Joo mudou de assunto para não se envolver.
“Você sabe quem é o dono da vila onde Hong Yeo Wook está hospedado?”
“Eu vi o símbolo gravado no portão principal daquele lugar.”
Símbolo? Kwon Taek Joo de repente se lembrou da paisagem da mansão. Exatamente como Zhenya disse, havia algo gravado em relevo no meio do portão principal.
“Se você for russo, vai saber que é o símbolo da família Bogdanov.”
Se isso for verdade, então Kwon Taek Joo chegou ao lugar certo. Ele se sentia perdido, incapaz de compreender a autenticidade de “SS-29”, muito menos de “Anastasia”, mas agora parecia que finalmente havia dado um passo adiante. Apenas infiltrando-se na mansão será possível descobrir se “SS-29” é, de fato, Anastasia ou não.
Embora seja um pequeno avanço, essa conquista já serve de alívio. As dificuldades do passado parecem não ter mais tanta importância. Pela primeira vez em muito tempo, Kwon Taek Joo expôs seus planos futuros com um sentimento de entusiasmo.
“Certo. Então vamos monitorar todas as manhãs, tardes e noites até encontrarmos um jeito de entrar lá.”
Desta vez, Zhenya apenas assentiu silenciosamente e perguntou novamente: “Terminou?”. Kwon Taek Joo assentiu. Levantou-se como se estivesse esperando. Observou-o em silêncio, indo direto para a porta.
Seus olhos inquisitivos causam desconforto? Zhenya se virou antes de sair.
“Ouvi dizer que tem uma Banya aqui. Quer tomar banho junto comigo?”
(A banya é uma sauna russa tradicional que consiste em um banho de vapor, banhos em água gelada, e a famosa “surra de ervas”)
Kwon Taek Joo pretendia recusar por hábito, mas estava perdido em pensamentos. Ele havia ficado trancado em um vagão apertado de trem por vários dias e agora todo o seu corpo se sentia muito frustrado. Talvez devido ao ferimento, seu sangue não parecia circular normalmente, e o frio terrível o fez desejar uma sauna quente também. Que oferta atraente. O problema é que Zhenya também estará lá.
Kwon Taek Joo queria se recusar a ficar em um espaço pequeno com aquele garoto. Além disso, não há problema se ele usar a banya primeiro e eu depois. Mas a razão pela qual ele não recusou o convite rapidamente foi porque as dúvidas ainda estavam persistindo em sua mente.
Até aquele momento, Kwon Taek Joo nunca tinha visto Zhenya nu. Mesmo durante o sexo, apenas o parceiro ficava nu e ele apenas abaixa o zíper. Ele estava curioso para saber o que estava tentando esconder que o deixava tão cauteloso. E Kwon Taek Joo também não é o tipo de pessoa que ignora facilmente as dúvidas que surgem.
“Claro.”