Codename Anastasia - Novel - Capítulo 34: Contra-ataque

A raiva reprimida explodiu. O homem ficou de pé, olhou e deu de ombros. Kwon Taek Joo estava furioso. A bandagem em sua cabeça se afrouxou pela metade, a solução intravenosa pendurada na prateleira caiu no chão, e até os travesseiros e cobertores da cama deslizaram para baixo. Como se isso não aliviasse sua raiva, ele bateu com força a mão por um instante.

 

“Se acalme. Você nem recebeu um P de polônio-210, que era o que você temia. Foi apenas um anestésico simples, mas tão forte que você não conseguiu acordar.”

 

‘P’: ‘você não recebeu nada disso.’

 

O homem interrompeu Kwon Taek Joo com um olhar confuso. Ele abaixou a cabeça e respirou rapidamente. Seus cabelos caindo cobriam seus olhos, impedindo que visse a expressão de Kwon Taek Joo. Demorou um pouco antes que ele abrisse a boca e perguntasse ao homem:

 

“O que ele está fazendo?”

 

“O quê?”

 

“Yevgeny. Aquele desgraçado… O que diabos ele está fazendo?”

 

Kwon Taek Joo ergueu a cabeça, seus olhos já afiados agora queimando de raiva.

 

O homem deu de ombros.

 

“Você já ouviu falar do FSB, certo?”

 

Kwon Taek Joo assentiu em vez de responder.

 

O ‘FSB’ é o Serviço Federal de Segurança da Rússia. Seu predecessor foi o KGB, uma organização famosa pela reputação de “uma vez que você entra, não sai vivo” na antiga União Soviética. Eles podem investigar várias organizações sem necessidade de mandado e frequentemente coletam informações necessárias enviando espiões ao exterior ou estabelecendo empresas de fachada. Eles até desfrutam do privilégio de não serem monitorados por outras agências. As operações oficiais incluem missões de contrainteligência e contraterrorismo, como o Serviço Nacional de Inteligência, mas rumores não oficiais sobre sequestros e assassinatos de inimigos também são amplamente difundidos.

 

“FSB?” Embora um pouco precipitado, Kwon Taek Joo tinha um pressentimento quase certeiro. Se Zhenya pertencesse a essa organização, então, como ele dizia, era um oficial do Estado. Ele realmente duvidava da reputação nacional de um país que confiaria trabalho a um lunático desses.

 

O rosto de Kwon Taek Joo subitamente escureceu. O homem não prestou atenção e continuou explicando. “Existem duas forças especiais dentro do FSB: Spetsgurpa Alpha e Vimpel. Entre elas, Spetsgurpa Alpha, comumente conhecida como Alpha, é composta pelos agentes mais elitizados. A maior parte de suas tropas está estacionada em Moscou. É uma unidade, mas independente o suficiente para ter poderes investigativos próprios. São formadas por cinco subunidades, cada uma com pelo menos 150 a 250 membros.

 

O importante vem agora:

 

Uma dessas cinco unidades tem apenas um membro.”

 

Reunir apenas agentes de elite em cada unidade prova que o trabalho que deve ser realizado é extremamente difícil e complexo. Mas será que existe alguém capaz de lidar sozinho com um trabalho que normalmente seria dividido por várias pessoas? Impossível. Quando Kwon Taek Joo ainda estava cético, o homem afirmou com firmeza:

 

“É ele.”

 

Kwon Taek Joo riu alto.

 

Isso é possível?

 

Ele está dizendo coisas absurdas só para provocá-lo? Mas é verdade que alguém teria que estar nesse nível para ser digno de ser chamado de ‘Psikh Bogdanov’. Mesmo assim, ainda estava além de sua compreensão.

 

O governo russo ou o ‘FSB’ aceitariam uma alocação de pessoal como essa? O homem eliminou novamente as dúvidas de Kwon Taek Joo com uma simples pergunta.

 

“Se fosse você, gostaria de estar na mesma equipe que ele?”

 

Nunca. Kwon Taek Joo não gostava de Zhenya desde o começo. Se aquela maldita sede não tivesse enviado a foto errada, ele nunca teria cruzado o caminho dele. Mesmo que precisasse enfrentá-lo inesperadamente, seguiria completamente seus instintos e ficaria longe dele. Kwon Taek Joo não se lembra de ter dormido confortavelmente um único dia desde que conheceu Zhenya.

 

“Não é à toa que a palavra ‘nuclear’ está associada a ele. É como se ele fosse explodir a qualquer momento, mesmo por um pequeno erro. Ouvi dizer que, se alguém o irritar, até mesmo seus aliados serão esmagados até a morte.”

 

“E ele alegará que foi legítima defesa.”

 

Kwon Taek Joo entrou na conversa com um tom que parecia familiar. O homem acenou com a mão, como se dissesse que era exatamente isso. Agora, Kwon Taek Joo entendia um pouco mais. O motivo pelo qual Zhenya o salvou no dia em que ele veio para este país disfarçado de Hiro Sakamoto. O motivo pelo qual o reencontrou no hotel onde almoçou com representantes russos. Naquele momento, Zhenya estava falando ao telefone.

 

“…Não. Eu vim, mas deve ter sido entediante.”

 

Sua voz parecia estar dando desculpas—talvez ele estivesse espionando seu adversário. No caminho para o banheiro, Kwon Taek Joo viu um funcionário da Gazprom mexendo no celular. Essa pessoa disse que o representante não apareceu no almoço?

 

Vamos deixar claro. Se fosse apoio, então o que aconteceu na última vez já teria sido suficiente.

 

Zhenya também disse a mesma coisa.

 

No fim das contas, foi porque ele era o terceiro filho da família Bogdanov que salvou Kwon Taek Joo, ou melhor, Hiro Sakamoto.

 

Ele foi ao hotel para ‘representar’ a pedido de seu pai ou irmão na Gazprom, apenas para encontrar Kwon Taek Joo ali.

 

Kwon Taek Joo sentiu que havia sido empurrado para descobrir, acidentalmente, coisas inesperadamente interessantes. Ele olhou de maneira significativa para a foto de si mesmo no celular de Hiro Sakamoto.

 

Já que era membro do ‘FSB’, devia ter percebido que aquela não era uma situação normal. Essa também é a razão pela qual os representantes da Gazprom não apareceram no almoço naquele dia. Peças de um quebra-cabeça que raramente se encaixam finalmente encontraram seu lugar.

 

Todos os comportamentos estranhos de Zhenya também são explicados. Como aquele desgraçado disse, Kwon Taek Joo teve sorte de estar vivo. Houve inúmeros momentos em que sua vida foi ameaçada por ele.

 

Kwon Taek Joo organizou seus pensamentos e, então, suspirou repentinamente. Erguendo a cabeça para encarar o homem, recuperou sua calma habitual.

 

“Então, qual é o seu nome?”

 

“Por que perguntar isso agora?”

 

“Eu sou Kwon Taek Joo.”

 

Ele ignorou a repreensão do homem e estendeu a mão para um aperto de mãos.

 

O homem deu um tapa na mão de Kwon Taek Joo com uma expressão insatisfeita.

 

“Salman. Salman Basayev.”

 

Quando Kwon Taek Joo se virou um pouco para apertar a mão dele, os músculos de todo o seu corpo protestaram, especialmente a área abaixo da cintura, que estava em uma dor insuportável.

 

Salman franziu a testa e balançou a cabeça. O que ele esperava de um paciente que acabou de acordar à beira da morte? Salman se levantou e se preparou para sair. Kwon Taek Joo parecia confuso.

 

“Você vai embora?”

 

“Não posso ir?”

 

“A partir de agora, temos que planejar os próximos passos.”

 

Salman fez uma cara engraçada e depois caiu na gargalhada. Kwon Taek Joo sugeriu discutir o plano enquanto parecia um zumbi. Mesmo quando sua saúde estava na melhor condição, nada mudou. Você já pensou em desistir logo após salvar sua vida de Psikh Bogdanov? Ou foi uma concussão na cabeça que o deixou inconsciente?

 

Salman clicou a língua.

 

“Você ainda não sabe? Esta operação falhou.”

 

“Não é…?”

 

“Você provavelmente quer negar e salvar seu erro, mas não temos mais chances. O apoio da sede também vai parar quando o tratamento terminar. Então, para receber o tratamento adequado, você deve voltar para seu país.”

 

Kwon Taek Joo tentou imediatamente objetar, mas Salman levantou as mãos como se não quisesse ouvir mais e, então, mancou em direção à porta.

 

Ele abriu a porta e parou por um momento.

 

Como se estivesse pensando em algo, Salman se virou para Kwon Taek Joo e falou de forma significativa.

 

“Acho que ele gosta muito da sua bunda? Mas parece que está rasgado.”

 

O quê?

 

Antes que Kwon Taek Joo pudesse perguntar, a porta se fechou. Ele encarou a porta fechada. Era claramente um sorriso misturado entre provocação e zombaria. Mas onde diabos está rasgado? Kwon Taek Joo refletiu sobre as palavras de Salman. Ele estava cansado e pálido num piscar de olhos. Memórias embaraçosas esquecidas rapidamente retornaram. Ele bateu a mão na cama, mas ainda não se sentiu melhor. O rugido repentinamente ecoou por todo o hospital.

 

“Seu desgraçado louco, eu vou te matar…!”

 

 

— — —

 

“Por que?”

 

Vladimir Vissarionovich ergueu os olhos, intrigado. O futuro chefe da Gazprom havia aparecido bem cedo na sede do FSB para sua visita anual ao parente. No centro da cena, como sempre, Zhenya coçava a orelha, indiferente.

 

“Parece que alguém está falando de mim.”

 

Não importava o assunto, ele nunca se preocupava de verdade e sempre soltava alguma frase sem importância. Vladimir, já exausto, massageou a cabeça que latejava. As rugas em sua testa se aprofundaram.

 

“Nosso pai está muito decepcionado.”

 

“Ah, mas não é a primeira vez, né?”

 

Zhenya murmurou despreocupado, como se nem soubesse que estava sendo repreendido. E, de fato, não estava errado. Quantos anos se passaram desde que a família precisou lidar com os estragos que ele causava?

 

Vladimir sempre acreditou que, depois da adolescência, as coisas melhorariam. Ele esperava que Zhenya amadurecesse, e ao longo de uma década foi paciente e otimista. Para Vladimir, o que quer que ele fizesse lá fora não importava, desde que não trouxesse problemas para dentro de casa. Mas Zhenya não tinha limites.

 

A primeira vez que ele riu de verdade foi há muitos anos. Vladimir se lembrava bem. O pavão branco que sua irmã mais nova tanto adorava desapareceu de repente. Era um pássaro criado com extremo cuidado, num habitat artificial no jardim da família. Pouco depois, o animal foi encontrado num canto, suas penas arrancadas. E ao lado do pavão caído estava Zhenya, coberto de plumas brancas.

 

“Olha pra mim, irmão. Ele finge ser majestoso, mas é ridículo.”

 

Ele tinha menos de dez anos na época. Mas seu sorriso era tão radiante, tão cheio de um prazer inexplicável, que Vladimir sentiu um calafrio. Se algo chamava sua atenção, ele sentia uma necessidade intensa de destruí-lo. Depois de acabar com aquilo, imediatamente buscava outro alvo.

 

Quando Zhenya começou a manifestar esses instintos destrutivos contra pessoas, seu pai tomou uma decisão.

 

Inscreveu-o no FSB e o colocou lá.

 

Seus impulsos violentos não eram um problema ali—pelo contrário, eram úteis. O verdadeiro problema era que, às vezes, nem o trabalho conseguia esconder suas ações.

 

E desta vez não foi diferente.

 

Quando a Gazprom se tornou a maior beneficiária do contrato entre Rússia e Japão, começaram a surgir grupos insatisfeitos. Vladimir temia que isso resultasse em danos até mesmo aos VIPs japoneses. Por isso, ordenou que seu secretário pessoal buscasse os funcionários japoneses um dia antes da chegada da delegação oficial.

 

Mas, ao chegar ao hotel, descobriu que o acompanhante havia sido subornado por um grupo adversário. Sem hesitar, Vladimir enviou Zhenya ao aeroporto.

 

Erro. Só que já estava feito. Ainda assim, ele nunca deveria tê-lo chamado para o almoço oficial.

 

Infelizmente, naquela manhã, seu pai, Vissarion, sofreu uma grave crise de saúde e tudo virou um caos. Vladimir tentou convencê-lo a participar do evento, mas Zhenya ignorou o pedido e preferiu brincar de espião com um agente de inteligência sul-coreano. Levou-o diretamente para um lugar onde apenas figuras importantes tinham acesso e ainda expôs informações sigilosas sobre o ‘SS-29’. E como se não bastasse, houve um tiroteio e um sequestro no meio do evento. Só de lembrar, a cabeça de Vladimir latejava. Ele soltou um longo suspiro.

 

“Por causa da bagunça que você causou, a posição de Baram ficou muito delicada. E o que eu deveria fazer diante do presidente e dos ministros? Você tem ideia do problema? A pessoa* que foi sequestrada naquela noite morreu…”

 

 

“Ah, pensando bem, como você lidou com ele?”

 

“…Aquele agente coreano usou você e ele como reféns para escapar e matá-lo.”

 

Zhenya explodiu em gargalhadas.

 

“Quem tomou quem como refém?” Ele perguntou, deixando Vladimir confuso.

 

Qualquer um que conhecesse Zhenya jamais acreditaria em uma mentira tão descarada. No entanto, era apenas uma estratégia. A Rússia de hoje é uma sociedade onde dinheiro é poder e poder é lei. A família Bogdanov é a prova viva disso.

 

“Por que você não eliminou aquele agente coreano assim que soube que ele era um espião?”

 

Vladimir perguntou, relutante. Ele também estava curioso. Um alvo que Zhenya poderia caçar à vontade havia caído em suas mãos, então por que ele o deixou viver? Mesmo quando o espião Kwon Taek Joo foi encontrado nu, ninguém ousou dizer nada. Nem mesmo na Coreia, para onde ele foi enviado, o assunto foi levantado. Esse é o destino dos espiões e a prática de muitas agências de inteligência.

 

Zhenya deu de ombros, despreocupado.

 

“Eu pensei nisso, mas eles confiam tanto em mim que brincar um pouco não faria mal.”

 

“E foi assim que você causou algo tão sério…”

 

“É divertido vê-los lutando para sobreviver. Matá-los tão facilmente seria um desperdício. É entediante.”

 

“…Certo, vamos deixar assim. Descobri que ele está sendo tratado em um pequeno hospital em Irkutsk. Se você já se divertiu o suficiente, deveria terminar o serviço. Por que deixá-lo vivo?”

 

“Eu não pretendia deixá-lo viver. Se eu o tivesse encontrado um pouco mais tarde, ele teria morrido.”

 

“De qualquer forma, quando você o soltou, ele ainda estava respirando. Você não costuma deixar sua marca cortando os dedos ou o corpo deles e jogando fora? Nunca houve uma exceção.”

 

Zhenya sorriu de forma estranha para Vladimir.

 

“Então, do que você está preocupado no final? Está com medo de que alguém que mal está respirando reaja? Não se preocupe. Ele não tem forças para isso.”

 

Zhenya foi categórico. Vladimir estava prestes a dizer algo mais, mas fechou a boca. Já estava feito, e discutir sobre isso não mudaria nada. Alguns segredos podem ter vazado para o lado sul-coreano, mas as operações não foram comprometidas. Eles nem saberão que a vigilância ficou mais rígida.

 

Zhenya mostrou uma expressão entediada e disse:

 

“Foi só para isso que você veio?”

 

Na verdade, Vladimir tinha várias razões para querer encontrá-lo. Como o filho mais velho da família Bogdanov, tentar aconselhar o problemático terceiro irmão era uma tarefa exaustiva. Mas ele tinha outro propósito.

 

“Anastasia ainda não está pronta?”

 

 

Zhenya sorriu diante da pergunta direta. Um olhar zombeteiro surgiu em seus olhos semicerrados. O relacionamento entre os dois sempre foi assim. Apesar de não se verem há muito tempo, a curiosidade sobre o progresso do trabalho de cada um sempre supera qualquer preocupação com a saúde do outro, o que não era surpreendente. Zhenya não respondeu à pergunta, mas devolveu outra.

 

“Quem está curioso sobre isso? Papai? O presidente? Ou os outros figurões?”

 

Vladimir não respondeu. Na verdade, todos estavam curiosos sobre a “Segunda Anastasia”, criada com base no projeto da “Anastasia Fracassada”.

 

Meses atrás, Coreia do Norte e Rússia concordaram em destruir todas as evidências relacionadas à pesquisa de Anastasia. Os projetos desenvolvidos por especialistas em armas ao longo dos anos foram priorizados para destruição. Todos os oficiais foram massacrados, arsenais e armas foram explodidos, e os projetos em desenvolvimento foram eliminados.

 

Claro, apenas a família Bogdanov sobreviveu à destruição brutal das evidências. Esse foi o preço para garantir que o silêncio sobre tudo isso fosse mantido para sempre.

 

Rumores começaram a circular: assim como a família Bogdanov não foi eliminada, os projetos ainda poderiam estar escondidos em algum lugar. A família permaneceu em silêncio, mas, ironicamente, essa postura ambígua só aumentou o medo do mundo exterior.

 

Vladimir também tinha sua curiosidade. Em vez de se preocupar se o projeto ainda existia, o que realmente o interessava era saber se eles poderiam reorganizá-lo para criar a verdadeira Anastasia.

 

O único que sabia a resposta era Zhenya. Afinal, o projeto atual de Anastasia existia em uma forma que apenas ele conseguia entender.

 

Sempre que tinha a chance, Vladimir perguntava a Zhenya quando a Anastasia completa seria revelada. Zhenya, reservado como sempre, dizia que pensaria nisso quando tivesse vontade.

 

Vladimir lembrou-se dessa conversa e reafirmou as intenções de Zhenya.

 

“Você ainda não está satisfeito com isso?”

 

“Talvez eu brinque com isso assim que terminar este trabalho.”

 

“Mas…?”

 

“Pensando bem, talvez seja melhor deixar como está, não acha? É divertido ver todo mundo ao redor agindo como cães no cio. Não faz muito tempo, alguém disse que vingaria o pai e veio correndo até mim. Ele nem sabia que seus braços e pernas seriam despedaçados, mas continuava latindo que ia me matar… Queria que você tivesse visto.”

 

Zhenya parecia genuinamente interessado. Vladimir virou a cabeça para ele, suspirou e pressionou as têmporas latejantes.

 

“…Então você matou Hong Yeo Wook?”

 

Zhenya não respondeu. Apenas deu um sorriso vago, com olhos frios e uma expressão de excitação. Por algum motivo, Vladimir sentiu como se suas roupas estivessem sendo arrancadas uma a uma, como se todas as cortinas ao seu redor estivessem sendo expostas. Era frustrante.

 

 

Vladimir passou a mão distraidamente na gola da camisa. Zhenya observou com calma e perguntou:

 

“Você se arrepende?”

 

“O quê?”

 

“Se arrepende de ter me mandado para lá?”

 

A pergunta era vaga, mas não difícil de responder.

 

“Me arrependo de ter confiado em você. Me arrependo de ter sido otimista ao achar que faria exatamente o que lhe pediram. Eu e papai também.”

 

Apesar da decepção e da resignação evidentes na família, Zhenya apenas riu.

 

“Pode se arrepender o quanto quiser, mas pare de cobiçar o que não é seu. Agora é meu. Não tenho intenção de usá-lo para o benefício de ninguém. Vou manter até cansar e então destruir por conta própria. Até agora ainda penso na nossa irmandade, mas se continuar assim, não vou ficar parado.”

 

Vladimir observou Zhenya em silêncio. Os olhares vazios passaram entre os dois irmãos, e um silêncio pesado tomou conta do ambiente.

 

Sem hesitar, Vladimir caminhou até a mesa de Zhenya e arrancou o telefone de sua mão. O aparelho, que ele nem havia tocado, estava em uma ligação ativa. No visor, o identificador de chamadas mostrava exatamente o mesmo número que estava registrado no celular de Vladimir.

 

“Você ainda está espionando toda a família?”

 

Que absurdo.

 

Zhenya não tentou se justificar. Vladimir apenas se levantou da cadeira e abriu a porta como se não tivesse mais nada a dizer.

 

Antes de sair, Vladimir ameaçou processar Zhenya caso ele não parasse de hackear telefones. Então, saiu e bateu a porta com força.

 

Finalmente, a paz voltou ao escritório depois que todo aquele barulho desapareceu.

 

Zhenya caminhou até a janela e observou Vladimir entrar furioso no carro. O sorriso provocativo que até então estampava seu rosto sumiu rapidamente. Zhenya virou-se devagar e olhou ao redor do escritório vazio. O relógio na parede indicava que ainda era de manhã.

 

“Que tédio.”

 

Ele murmurou para si mesmo. Estranhamente, o tempo parecia passar devagar demais.