Codename Anastasia - Novel - Capítulo 66: Checkmate - Parte 6
Tribunal nº 426, Seção 21 do Acordo Criminal, Tribunal Distrital Central de Seul. O julgamento de um caso envolvendo um alto funcionário da Agência Nacional de Inteligência (NIS) teve início.
O réu é acusado de ter recebido ordens da Coreia do Norte e de ter realizado atividades clandestinas por décadas. Com o tempo, no entanto, ele teria mudado de ideologia e, ao ver seu nome citado como possível próximo diretor da NIS, tentou manipular os registros e encobrir seu passado. Além disso, havia outros envolvidos no plano — inclusive servidores em nível de chefia dentro da agência —, e o poder público acabou também sendo envolvido. Um funcionário inocente da NIS chegou a ser acusado de roubo de segredos de Estado e foi perseguido, chamando atenção da opinião pública.
Contudo, como o julgamento inicial ocorreu a portas fechadas, jornalistas e curiosos foram completamente proibidos de entrar. Devido ao controle rigoroso do tribunal, até mesmo os advogados precisaram comprovar sua identidade para entrar e sair. Foi uma cena sem precedentes.
“Solicito o depoimento de um agente da Agência Nacional de Inteligência que prendeu o réu na ocasião.”
O juiz aceitou a testemunha da promotoria. Logo em seguida, a equipe do tribunal instalou divisórias nos assentos da promotoria, da defesa e das demais partes envolvidas, para proteger a identidade da testemunha e respeitar as especificidades de sua função.
Momentos depois, a porta se abriu e a testemunha entrou discretamente. Protegida por um compartimento reservado, fez o juramento de dizer apenas a verdade e responder às perguntas de forma honesta. Com ela, três agentes passaram a compor o banco de testemunhas. O embate foi acalorado e durou mais de duas horas.
“Faremos um intervalo de 30 minutos.”
Após a pausa, o tribunal anunciou que o restante do julgamento seria público. As divisórias foram removidas e as portas, abertas. Jornalistas que aguardavam do lado de fora correram para registrar o momento. Tentaram compensar a frustração de não terem presenciado a primeira parte tirando fotos das estruturas parcialmente desmontadas sendo limpas. Enquanto isso, as testemunhas saíam discretamente por uma entrada oculta.
Yoon Jong Woo tirou o paletó apertado e o jogou sobre os ombros. Nem mesmo o cabelo penteado com esmero resistia à tensão.
“Ah… Eu nem cometi crime, mas estou assustado. Vir aqui pro tribunal me deixou completamente atordoado. Se tivéssemos tido um pouquinho menos de sorte, nós dois estaríamos sentados no banco dos réus.”
Taek Joo, ao ouvir aquilo, afrouxou a gravata e sorriu. Como Yoon Jong Woo disse, houve muitas variáveis no caminho, mas felizmente todos se esforçaram — e por isso chegaram àquele desfecho. Ele nem sabia como as coisas poderiam ter sido diferentes se alguém tivesse cometido um erro. A verdade muitas vezes é assim: o que deve ser revelado, com frequência, acaba soterrado, distorcido ou simplesmente esquecido.
Após o fim do caso, a vida de Taek Joo voltou ao normal. Ele continuou atuando como agente da NIS, e a preocupação constante de sua mãe permaneceu inalterada.
Taek Joo ainda não conseguia contar tudo com sinceridade à mãe. Disse que a perseguição tinha sido causada por um erro no sistema. Que não podia contar os detalhes por causa das regras da NIS. E que seu trabalho era apenas administrativo. Assim que ela ouviu as palavras “Agência Nacional de Inteligência”, parou de perguntar. Por isso, Taek Joo já estava preparado e mentiu, dizendo que logo seria transferido para outro órgão.
Não era agradável mentir para a mãe, mas ele também não queria que ela vivesse cheia de medo. A função de agente lhe caía bem — a ponto de parecer vocação. Toda vez que ia a campo, sentia que estava realmente vivo. Não sabia se algum outro trabalho poderia substituir aquela sensação de realização após cumprir uma missão.
A mãe de Taek Joo havia começado recentemente a fazer terapia para superar o trauma psicológico que ainda persistia. Estava retomando a própria vida aos poucos. Para que a paz e a felicidade entre mãe e filho fossem possíveis, Taek Joo percebeu que, por enquanto, teria que estar disposto a mentir.
Ele decidiu pedir ajuda a Zhenya. Embora não soubesse se era ético envolver uma agência pública em algo tão pessoal, refletindo bem, ele também não entendia por que Zhenya havia aceitado ocupar tal posição. Tanto ele quanto a própria Rússia aceitaram o pedido de forma silenciosa, sem medidas contrárias. Talvez, por ser um elemento inconveniente demais para se manter no país, tenham decidido que seria melhor mandar Zhenya para bem longe — para a Coreia.
“Aliás, fiquei muito surpreso quando ouvi a notícia há alguns dias. O senhor sabia? Aquele maluco russo vai virar o próximo embaixador da Rússia.”
Enquanto Taek Joo estalava a língua com impaciência, Yoon Jong Woo soltou o comentário. Parecia até que se sentia culpado, como se fosse o responsável por tudo. Como se já não bastasse ter um diploma da Rússia e ser meio excêntrico — agora Zhenya ainda havia fugido para a Coreia. Uma loucura.
Taek Joo respirou fundo e balançou a cabeça, resignado. Jong Woo perguntou, preocupado:
“O senhor tá bem?”
“Talvez só por um tempo. Mesmo se ele fugiu pra cá… vai se cansar rápido.”
Taek Joo suspirou com aquela esperança frágil. Mas, apesar disso, também não tinha intenção de quebrar sua promessa. É só que não era fácil iniciar um relacionamento com alguém que poderia tê-lo matado — e depois salvou sua vida. Só a ideia de estar com Zhenya já o assustava um pouco.
Por isso, ele torcia para que aqueles sentimentos estranhos de Zhenya simplesmente se dissolvessem com o tempo. Até lá, Taek Joo se comprometia a ficar ao lado dele, sempre que possível. Enquanto ainda restasse algum afeto, Zhenya provavelmente não agiria com a mesma impulsividade de antes. Sua “arma em forma de corpo” continuava desconfortável, mas — sendo sincero consigo mesmo — Zhenya até que parecia alguém com quem valeria a pena dormir. Então, talvez não fosse uma perda total.
“Preciso voltar para a sede. E você, senhor?”
“Vou aproveitar o resto das minhas férias.”
Mal disse isso, Taek Joo sentiu um pressentimento sombrio junto da vibração repentina dentro do paletó. Tirou o celular do bolso — era mesmo a central da agência ligando. Yoon Jong Woo olhou para o aparelho com uma expressão estranha. O garoto, cansado, fixou os olhos no visor piscando e murmurou:
“Se você atender…”
“Eles me ligaram pedindo pra te encontrar. Sabem que estou com você.”
Taek Joo foi forçado a atender. Como sempre, a ligação começou e terminou de forma unilateral. Não teve nem tempo de abrir a boca. O novo chefe era um funcionário público típico: competente, objetivo e capaz de fazer qualquer subordinado seguir ordens sem questionar.
“O que disseram?”
“Ué, que tem uma nova missão.”
Taek Joo soltou um suspiro. Os dois trocaram um olhar resignado e riram. Fazia parte da rotina — um hábito impossível de evitar para quem trabalhava na NIS. Ele não podia escapar.
Quando já se preparava para sair, o celular tocou de novo. Só que dessa vez, ele já sabia quem era antes mesmo de olhar. Era uma intuição vaga, mas certeira. Se não atendesse, o toque duraria para sempre. Atendeu e levou o aparelho ao ouvido.
Antes que dissesse algo, a voz do outro lado falou:
“Avise que você não vai.”
Essa frase — sempre essa — era de Zhenya. Pelo momento exato da ligação, parecia que ele havia hackeado o telefone.
“Ei, invasão de privacidade e escuta são crimes na Coreia, sabia? Esqueceu?”
“Talvez você tenha esquecido… mas diplomatas têm imunidade.”
Não era como se a Coreia tivesse concedido esse privilégio oficialmente a Zhenya… Para onde vai o futuro deste país?, pensou Taek Joo com uma pontada de culpa.
Ele não sabia se Zhenya sentia o mesmo que ele. Nunca havia considerado amar um homem — sequer ver um como objeto de desejo —, então nada seria simples. Mas havia uma coisa de que estava certo: entre homens ou mulheres, Zhenya era o único capaz de fazer seu coração disparar.
Taek Joo se perguntava até onde Zhenya seria capaz de mudar por ele. Cada gesto estranho, cada atitude inesperada, despertava dentro dele uma mistura de desafio e excitação.
Ele sorriu e, sem mais resistir, decidiu seguir seu coração.
“Estou voltando.”
“Então volte logo.”