Codename Anastasia - Novel - Capítulo 67: Armadilha de mel
A Embaixada da Rússia está localizada na Coreia.
Faltando apenas um mês para a visita de cortesia do presidente e a apresentação do Balé Real no país, toda a equipe da embaixada estava em estado de alerta. Os funcionários passavam os dias atarefados: os telefones começavam a tocar assim que chegavam para trabalhar, faxes chegavam sem parar e precisavam ser classificados um por um, despachos eram enviados a órgãos relevantes, além de uma enxurrada de e-mails com perguntas diversas que exigiam resposta imediata.
Depois do evento oficial, a embaixada ainda pretendia realizar a “Noite Russa”, voltada para o intercâmbio cultural entre Coreia e Rússia. Por isso, cada setor parecia estar literalmente pegando fogo. Como se não bastasse, pedidos de visto para estudantes que se preparavam para estudar ou treinar no exterior se acumulavam a ponto de tirar o fôlego de todos.
Documentos não aprovados se amontoavam na mesa do embaixador. O assessor Pavel Menshikov suspirou fundo ao colocar mais uma pilha de papéis sobre ela. Desde que o novo embaixador assumira, não havia um único dia sem suspiros.
Era difícil servir sob o comando de um embaixador tão jovem — mas também não queria ser rotulado como um assistente incompetente. Seus olhos se tornaram sombrios ao receber a notícia de que Zhenya havia sido nomeado próximo embaixador. Ele era quase tão famoso quanto o próprio presidente, em sua terra natal. E por mais que desejasse que fosse apenas um boato infundado…
Três meses se passaram desde o anúncio — e, surpreendentemente, nenhum caos temido aconteceu. De certo modo, fazia sentido: o embaixador só aparecia quando queria e, na maior parte do tempo, nem saía de casa. Sem encrenqueiro, não há encrenca.
Enquanto ponderava se deveria ou não assumir os papéis pendentes em nome de Zhenya naquele dia, uma batida na porta interrompeu seus pensamentos — e logo ela se abriu. O Secretário do Departamento de Cultura e o Secretário do Politburo entraram um após o outro. Ao se depararem com a já conhecida cena diante deles, suspiraram antes mesmo de falar:
“O embaixador sumiu de novo?”
“Quem me dera saber.”
“Tsk, tsk… É papel demais.”
“Deveria estar tudo resolvido em um ou dois dias.”
Os três suspiraram em uníssono e balançaram a cabeça.
“Será que o Kremlin sabe que ele saiu assim, largando o celular num dia como hoje?”
“Como não saberiam? Apenas fingem que não sabem. Na verdade, isso já era esperado desde o começo.”
“Ouvi dizer que essa nomeação foi solicitada pessoalmente por ele. Mas por que a Coreia?”
“Quem sabe… Talvez nem a mãe biológica dele saiba.”
Mais um suspiro saiu dos três ao mesmo tempo. Considerando o tempo restante do mandato, o futuro parecia ainda mais sombrio. Ninguém mais tinha ânimo para trabalhar.
O assistente ainda tentava manter uma visão otimista da situação:
“É até bom vê-lo de bom humor de vez em quando. Vocês ouviram o que dizem na Rússia? Dizem que um mínimo sinal de irritação dele pode virar tudo de cabeça pra baixo. Talvez o melhor seja deixar ele fazer o que quiser e só observar de longe.”
Os dois secretários assentiram, meio que concordando. Apesar das reclamações sobre o acúmulo de tarefas, no fundo também estavam aliviados por não terem que lidar com Zhenya diretamente. Tudo por causa dos rumores envolvendo seu nome. Dizia-se até que ele seria uma unidade de operações da FSB inteira — sozinho. É compreensível que ninguém quisesse se tornar subordinado de alguém assim. O mais prudente era não se envolver com um superior de humor tão imprevisível.
A função de embaixador nunca é tranquila. Como diplomata de alto escalão, Zhenya representa a própria Rússia — e, com isso, carrega uma tonelada de tarefas ligadas à política externa. Sem contar as questões pessoais, que também não são poucas.
Mas aquele remanejamento absurdo de pessoal pelo Kremlin só podia ter uma razão: relações. Não dá pra remover — e, se forçar demais, não dá nem pra manter — então o melhor é mandá-lo bem longe. E se o próprio Zhenya pede pra ir… não há motivo pra negar.
A equipe da embaixada foi substituída por diplomatas competentes — e isso não foi por acaso. Desde sua nomeação, já se esperavam faltas constantes e omissões da parte do novo embaixador. Agora que perceberam, já é tarde demais.
“Aliás, vocês sabem quem é o coreano que consta como funcionário da nossa embaixada?”
“Pois é! Fui verificar isso outro dia e fiquei mais confuso ainda. Disseram que, se a gente quiser saber, tem que perguntar direto pro embaixador.”
Os dois secretários se revezaram nas perguntas. Na verdade, não eram só eles — todos na embaixada estavam curiosos. Ninguém nunca tinha visto um coreano assinando o nome com orgulho na lista oficial de funcionários. Ninguém sabia o que ele fazia, muito menos como ele era. Só se sabia que foi contratado diretamente pelo embaixador especial. Então, devia ser algum conhecido pessoal dele.
O Secretário do Departamento Político expressou abertamente sua insatisfação:
“Tsk, tsk… Um nomeado do guarda-chuva contratando outro do mesmo guarda-chuva.”
“Guarda-chuva? Isso aí é uma bomba atômica. Não — é uma arma nuclear.”
As palavras vinham cheias de metáforas, mas ninguém discordou. Riram juntos e voltaram ao trabalho.