Codename Anastasia - Novel - Capítulo 69: Armadilha de mel - Parte 3

“Hmm?”

 

Kwon Taek Joo arregalou os olhos. Familiar ou não, um teto rapidamente preencheu sua vista. Como ele chegou ali?

 

Kwon Taek Joo relembrou as lembranças da noite anterior. Lembrava-se de ter saído de casa e entrado no carro de Zhenya, mas não de ter saído do carro. Parecia que sua consciência havia sido cortada no meio do caminho. Isso também porque ele não conseguia dormir direito há muito tempo. Kwon Taek Joo revirou os olhos e olhou ao redor.

 

O lugar onde estava hospedado parecia ser o quarto da família Zhenya. Ele só estava ali uma vez antes de uma viagem de negócios, então ainda estava um pouco confuso. Zhenya não estava em lugar nenhum, e Kwon Taek Joo também não conseguia sentir sua presença. Ou talvez Zhenya não estivesse em casa.

 

Ele especulou vagamente, mas não tinha intenção de se levantar para confirmar. O odor corporal de Zhenya ainda impregnava os lençóis. Mesmo assim, enterrou a cabeça nele.

 

De repente, o cobertor escorregou. Mesmo sendo verão, ele sentiu um frio incomum, pois Kwon Taek Joo não estava usando uma única peça de roupa. Pensando bem, sua mente se sentia revigorada, como se tivesse acabado de dormir profundamente, mas seu corpo estava rígido e dolorido, como se tivesse lutado a noite toda. E esse desconforto se concentrava especialmente na virilha.

 

Kwon Taek Joo sentou-se e imediatamente agarrou a cintura dolorida. Gemeu e examinou a área entre as pernas. Estava inesperadamente limpa. No entanto, em todos os lugares que conseguia ver, havia chupões coloridos. A parte interna de suas coxas estava coberta de hematomas vermelhos-escuros.

 

Será que Kwon Taek Joo não sabia que havia sido mordido daquela forma? Parecia perplexo com a perda de sensibilidade. Kwon Taek Joo tentou se levantar da cama, mas suas pernas haviam perdido completamente a força. Só de se sentar, a parte interna de suas nádegas ficou dormente, indescritível. Mesmo sem uma inspeção cuidadosa, era evidente em que estado ele se encontrava.

 

“Nós fizemos, certo?”

 

Kwon Taek Joo murmurou inutilmente. E não parecia que tudo acabaria em apenas uma ou duas sessões, mas ele dormiu muito bem.

 

“O que aconteceu?”

 

Kwon Taek Joo olhou para a parte inferior do corpo e perguntou. Não houve resposta, então ele só conseguia sentir o corpo com o tato. Olhando para ele sem vitalidade, foi o suficiente para ver que ele havia dormido com ele.

 

Droga, Zhenya, ele é o único que está feliz. Ele estava com tanta sede que Kwon Taek Joo foi até a cozinha e abriu a geladeira. Lá dentro estava vazio, com apenas algumas garrafas de água mineral espalhadas. Kwon Taek Joo ficou grato por aquela coisa simples, então abriu a garrafa e tomou um gole. Cada vez que a clavícula se move, a pele ao redor do pescoço, com inúmeras mordidas, coçava.

 

Kwon Taek Joo limpou os lábios úmidos com as costas da mão enquanto observava o interior da casa. A casa parecia uma casa em miniatura. A cama, o sofá e a TV estavam totalmente equipados, mas não havia absolutamente nenhuma sensação de que alguém morava ali, como se nunca tivessem sido usados desde que foram comprados.

 

Kwon Taek Joo se jogou no sofá que tinha um leve cheiro de couro. Para onde aquele cara foi, afinal? Era dia de semana, mas ele tinha certeza de que Zhenya não estava trabalhando na embaixada.

 

Sem saber quanto tempo esperaria, Kwon Taek Joo ligou a TV para assistir. O noticiário do meio-dia estava sendo transmitido. Kwon Taek Joo olhou distraidamente para a tela e de repente se lembrou de sua mãe.

 

Pensando bem, ele não tinha conseguido contatá-la até agora, depois de ter avisado que chegaria tarde em casa. Kwon Taek Joo foi direto para o quarto e encontrou o telefone. A bateria estava com menos de 10%.

 

De fato, ele recebeu uma chamada perdida de sua mãe. Uma mensagem de texto perguntando onde ele dormia e se ele tinha ido trabalhar. Kwon Taek Joo apertou o botão de chamada. Não demorou muito.

 

“Alô”, sua mãe atendeu.

 

“Mãe, sou eu. Ontem bebi demais, então não fui para casa. Só me deixaram ir de manhã. Vou fazer sauna e depois vou direto para a sede.”

 

“Meu Deus. Coma sopa de vinho falso.”

 

“Vou comer agora.”

 

“Quanto você bebeu para ficar tão rouco? Está cansado?”

 

Há outro motivo para a voz de Kwon Taek Joo estar rouca, mas nem ele conseguiu dizer. Ele simplesmente culpou o álcool por tudo e garantiu à mãe que voltaria logo.

 

Quando a ligação terminou, Kwon Taek Joo sentiu uma presença na porta da frente. Olhou para fora, Zhenya tinha acabado de entrar em casa com um saco plástico pesado na mão, parecia que tinha voltado da loja de conveniência.

 

Zhenya colocou suas compras na mesa e encarou Kwon Taek Joo. Por algum motivo, seu rosto parecia mais feliz do que ontem. Ele desligou o telefone e se aproximou de Zhenya.

 

“Aconteceu alguma coisa ontem à noite?”

 

“É por que não transamos a algum tempo? Parece mais apertado do que antes. Eu só ia fazer isso duas vezes, mas por causa daquele buraco…”

 

Zhenya foi descarado e não mudou sua expressão, Kwon Taek Joo imediatamente levantou a mão para cobrir a boca do bastardo. O sujeito imediatamente lambeu a palma da mão, agarrou seus quadris e pressionou a parte inferior do abdômen de Kwon Taek Joo.

 

“Se você não se arrepende, pode fazer de novo agora. O dia ainda é longo.”

 

“Estou tentando aproveitar o longo dia.”

 

Kwon Taek Joo tentou se defender e afastar o queixo de Zhenya que estava grudado nele. Zhenya gentilmente levantou Kwon Taek Joo e o colocou sobre a mesa.

 

Coisas compradas na loja de conveniência se espalharam, algumas delas caíram no chão fazendo barulho. Quando Kwon Taek Joo instintivamente se virou para olhar o objeto que caía, Zhenya agarrou seu queixo e o virou em sua direção.

 

Olhos azuis preencheram seu rosto, olhos olhando diretamente para ele pareciam bastante sérios. Cada vez que ele olhava para aquele rosto gentil, Kwon Taek Joo sentia como se estivesse desarmado.

 

Ele frequentemente se deixa levar sem nem perceber que sua frequência cardíaca e pulso estão ficando irregulares. Desta vez não foi diferente. Seu coração amoleceu, e ele também relaxou a mão que estava empurrando Zhenya para longe.

 

Zhenya percebeu essa mudança e se aproximou lentamente. Um suspiro saiu quando os lábios entreabertos estavam se aproximando. A uma distância onde a ponte de seus narizes estava prestes a se tocar, Kwon Taek Joo olhou para os lábios de Zhenya, e ele olhou diretamente nos olhos de Kwon Taek Joo, sua respiração fina e entrecortada tremendo incontrolavelmente.

 

Zhenya continuou a beijá-lo com força. O lábio superior de Zhenya cercou o lábio inferior de Kwon Taek Joo e então pressionou firmemente em seu rosto. Kwon Taek Joo mordeu o lábio superior e agarrou o rosto de Zhenya. Ele naturalmente se inclinou para trás como se estivesse se agarrando a Zhenya.

 

Chok, chok, o som se repetia sem parar, vindo de dois lábios que se encontraram e aos poucos se apertaram. Seu corpo também ficou cada vez mais quente. Seria ótimo se Taek Joo conseguisse se concentrar nisso, mas o som da TV continuava a entrar em seus ouvidos.

 

Era notícia que o Norte estava realizando recentemente um teste de mísseis na presença do líder supremo, e quando o governo expressou arrependimento, a opinião pública despejou fortes críticas. Não é questão de um dia, mas sempre que a relação com a Coreia do Norte se torna tensa, Kwon Taek Joo não tem escolha a não ser se preocupar. É como uma doença ocupacional.

 

“…ah… Qual é…”

 

Kwon Taek Joo murmurou como um presságio sinistro. Zhenya beijava seu queixo e pescoço, finalmente olhando para a TV. Na tela, os dados de lançamento de mísseis da Coreia do Norte estavam sendo transmitidos. Zhenya foi direto até a TV e a desligou da tomada. Ele puxou com tanta força que a tomada tremeu.

 

Naquele momento, o celular de Kwon Taek Joo vibrou. Ele verificou desajeitadamente quem estava enviando a mensagem e suspirou como se o chão estivesse desaparecendo.

 

Zhenya o virou e puxou as pernas de Kwon Taek Joo, colocando-as completamente sobre a mesa. Ele se inclinou em sua direção, virou a cabeça e tentou beijá-lo novamente.

 

Os lábios, sem hesitar, desceram para encontrar os lábios de Kwon Taek Joo. Mas seu desejo não foi realizado porque seus lábios tocaram um celular rígido, porque Kwon Taek Joo de repente colocou o telefone entre os lábios.

 

“Chamada da sede”, anunciou Kwon Taek Joo com uma expressão irritada. Ele empurrou delicadamente o ombro de Zhenya, levantou-se e caminhou até a mesa. Os olhos insatisfeitos de Zhenya o seguiram.

 

— — —

 

Kwon Taek Joo se vestiu e atendeu ao telefone. Assim que terminou de abotoar a camisa, a ligação chegou ao fim. Sentindo o olhar de Zhenya, ele virou o rosto. O russo ainda estava parado diante da porta, desde que ouviu a notícia desanimadora.

 

“Tenho que ir à sede. Me chamaram.”

 

Não havia como o pessoal da central não saber que ele havia retornado apenas no dia anterior. Mesmo assim, ligaram. Ou houve algum problema na missão anterior, ou surgiu uma nova tarefa urgente. Seja como for, não parecia nada divertido.

 

Ele saiu de casa sem olhar para trás. A porta se fechou com um ruído forte. Restava apenas Zhenya sozinho no enorme apartamento. Com olhar descontente, observava os pacotes de ramen espalhados no chão. Pra que ele veio pra Coreia, afinal? Parecia que já precisava preparar um novo plano de ação.

 

— — —

 

“Senhor, o senhor não precisa descansar um pouco?”

 

Yoon Jong Woo foi o primeiro a recebê-lo quando entrou na sede. O garoto lançou um olhar curioso diante da expressão fechada do outro. Taek Joo apenas assentiu, exausto, e passou o braço sobre o ombro de Yoon Jong Woo. Entre suspiros silenciosos e gemidos contidos, foi ignorando o cansaço até ser pessoalmente levado ao escritório do chefe.

 

O diretor Kwak agora ocupava o lugar deixado por Lim. Embora não fosse um agente de campo como o anterior, sua expertise sobre a Coreia do Norte o tornava uma figura respeitada — chegando a ser chamado de “Ministro da Reunificação”. Mas se havia algo que compartilhava com o antigo chefe, era o jeito duro de tratar subordinados.

 

Mesmo com toda a resistência física que tinha, Kwon Taek Joo não era imbatível. Depois de meses seguidos sem descanso, até ele sentiria os efeitos. Afinal, pessoas morrem de exaustão, não é?

 

Diante da porta do diretor Kwak, ele respirou fundo e bateu.

 

“Entre.”

 

Recuperando a postura, ele entrou. Kwak o fitou e indicou discretamente a cadeira à frente. Taek Joo caminhou até lá com calma, fez uma leve reverência e se sentou.

 

O chefe iniciou elogiando os feitos recentes:

 

“Foi um grande esforço concluir a última missão com segurança.”

 

“Sim. É minha obrigação.”

 

“Ouvi que você se orgulha dos seus resultados — e quanto mais converso com você, mais entendo por quê.”

 

Ele sorriu brevemente e então mudou de assunto:

 

“Você viu as notícias hoje?”

 

“Está falando sobre o teste de mísseis conduzido pela Coreia do Norte?”

 

“Certo. Informações recentes de inteligência indicam que as plataformas de lançamento de mísseis na Coreia do Norte mudaram bastante de localização. Ontem mesmo, relatou-se que uma delas estava voltada para o céu, e antes disso houve um teste supervisionado diretamente pela liderança suprema. Não sei se é relacionado, mas também ouvi que um alto funcionário norte-coreano fará uma visita não-oficial à China em breve.”

 

“Você quer que eu vá investigar… agora?”

 

“Eu sei que você voltou ontem e está exausto. Mas e se for algo urgente?”

 

Kwon Taek Joo franziu as sobrancelhas, claramente abatido. Mas o chefe não dava sinais de querer repassar a missão para outra pessoa.

 

“Eu saí porque o senhor mandou… mas não sei o que dizer pra minha mãe.”

 

“Se necessário, posso emitir um documento oficial disfarçado. Você também pode buscar apoio na Embaixada da Rússia, onde trabalha.”

 

“Esse trabalho…”

 

“O que foi? Vocês parecem bem próximos, não é? Vivem circulando juntos em assuntos particulares.”

 

“Você sabe mesmo de tudo, hein…”

 

“Só estou sendo cordial com meus subordinados.”

 

O chefe Kwak sorriu com sarcasmo. Parecia que o guaxinim havia partido — e agora a serpente estava no comando. Ele não quis se prolongar. Levantou-se em silêncio e apenas assentiu. Quando Taek Joo saiu da sala, ouviu a despedida:

 

“Depois que voltar, vamos beber alguma coisa.”

 

Taek Joo soltou um suspiro pesado. Já não sabia se vivia para trabalhar ou se trabalhava para viver. Não queria nada além de descanso. Após essa missão, talvez precisasse tirar uma licença. Mas como explicar isso à mãe? Que desculpa daria a Zhenya? O ar parecia sufocante. Se contasse a verdade, poderia acabar preso em promessas. Talvez fosse melhor deixar tudo claro depois que partisse.

 

Ele pensou em mil possibilidades enquanto voltava direto para casa. Ao chegar, sentiu um vazio: sua mãe parecia ter saído para o mercado. E Zhenya também não estava por lá. Será que estava esperando silenciosamente em sua própria casa?

 

Taek Joo começou a fazer as malas, ainda perdido em pensamentos. Quando estava prestes a sair, sua mãe não havia voltado. E Zhenya continuava em silêncio.

 

— — —

 

Ele chamou um táxi e pediu ao motorista para ir direto ao aeroporto. Olhando pela janela por um momento, ligou para sua mãe.

 

“Sim, filho. O que foi?”

 

“Passei em casa, mas a senhora não estava. Já estou indo embora. Provavelmente não vou conseguir voltar por um tempo porque estou muito ocupado com o trabalho. Já tinha dito pra senhora antes. Vai ter um evento de grande escala organizado pela embaixada, que vai durar um mês. Essa viagem de trabalho vai ser puxada, porque tenho muita coisa pra dividir com o setor russo, quase ninguém vai trabalhar e ainda tem a diferença de fuso horário.”

 

“Uh, você deve estar exausto. Tudo bem, filho, só não trabalhe até tarde e coma direitinho.”

 

“É só um pouco desconfortável. É um trabalho que precisa ser feito todos os dias.”

 

Talvez sua mãe preparasse alguns acompanhamentos, né? Já teria comprado roupas novas para ela?

 

“A comida vai estar pronta e você tem tudo o que precisa. Liguei só pra avisar pra senhora não se preocupar se eu não puder dar notícias por um tempo. Espero que se cuide também.”

 

“Você tá falando como se fosse ficar fora por muito tempo.”

 

“Mãe, preciso ir. Entro em contato mais tarde.”

 

“Tá bom, trabalha direitinho.”

 

Depois que a ligação terminou, Kwon Taek Joo continuou olhando para o celular. Como estava de partida, deveria ter entrado em contato com Zhenya. O problema é que nenhuma desculpa parecia adequada. Normalmente, Zhenya tentaria interferir, obrigando-o a recusar a nova missão — e a ideia de passar todo esse tempo longe também o deixava desconfortável.

 

Depois de pensar um pouco, Kwon Taek Joo tentou ligar para Zhenya. No entanto, por algum motivo, só ouviu o som contínuo da chamada.

 

Claro que Zhenya não esperava por ele o tempo todo. Ele podia deixar de atender uma vez ou outra. Mas isso agora preocupava Taek Joo — porque era raro acontecer, e Zhenya sempre o contatava primeiro. Além disso, ele não tinha mais ninguém na Coreia com quem manter contato. Será que ficou magoado?

 

Taek Joo considerou deixar uma mensagem, mas desistiu. Se Zhenya estivesse mesmo chateado, o melhor seria acalmá-lo com palavras diretas, em vez de uma declaração unilateral. Também seria uma forma de evitar consequências mais complicadas no futuro.

 

O táxi chegou rapidamente ao aeroporto. Kwon Taek Joo fez o check-in antecipado com os bilhetes que já haviam sido reservados pela sede.

 

Antes de entrar no saguão de embarque, ele tentou ligar para Zhenya novamente. Mas, dessa vez, o outro lado da linha também permaneceu em silêncio. Depois de passar pelo scanner, continuou tentando fazer contato quando chegou ao portão de embarque. Diversas tentativas, todas em vão.

 

Kwon Taek Joo ergueu a manga e conferiu as horas. Já estava na hora de embarcar. Ele não fazia ideia de quantos dias essa missão duraria.

 

Finalmente tocou no botão de chamada mais uma vez, mas não ouviu a voz de Zhenya. Ao olhar o histórico de ligações acumulado até aquele momento, sentiu-se como um perseguidor sem justificativa.

 

“Talvez ele não consiga atender.”

 

Desistiu, mas ainda não conseguia tirar os olhos do telefone. Mesmo com o aparelho ligado, como Zhenya não havia atendido até aquela hora? Claro, se algo desse errado, era para se preocupar com qualquer um — menos com Zhenya.

 

Ainda assim, o “rato” apertava o botão de chamada, pensando no “gato”.

 

“Por favor, atenda o telefone”, murmurou Kwon Taek Joo.

 

Na mesma hora, veio o aviso sonoro pedindo para todos embarcarem o mais rápido possível. E o telefone ainda emitia os mesmos bipes indiferentes, caindo em silêncio.

 

(NT: achei fofo o Taek Joo sendo o rato e o Zhenya, o gato)

 

De repente, os bipes cessaram. E então veio o som da respiração do homem que ele esperava há tanto tempo. Zhenya parecia estar do lado de fora — havia muito ruído no fundo. Antes que Taek Joo pudesse dizer qualquer coisa, uma voz falou do outro lado:

 

“Estou ocupado agora. Falamos mais tarde.”

 

“O quê?”

 

Assim que perguntou, a ligação foi encerrada. Ele olhou para o telefone, confuso. A duração da chamada foi inferior a três segundos. Nem precisa dizer — sentiu-se bastante constrangido. Será que Zhenya estava ocupado na embaixada? Ao menos parecia que não havia nenhum problema grave.

 

Kwon Taek Joo deixou uma mensagem dizendo que iria viajar ao exterior por um tempo a trabalho. Depois disso, desligou o telefone e embarcou no avião.

 

— — —

 

O voo até Pequim durou cerca de duas horas. Kwon Taek Joo se juntou à multidão e seguiu até o controle de imigração. No saguão de recepção, um funcionário do aeroporto segurava uma placa — nela, o nome de Kwon Taek Joo estava claramente escrito.

 

“Senhor Kwon?”

 

Ele se aproximou, perguntando se podia reconhecer seus traços faciais. A sensação de déjà-vu voltou com força. Mais uma vez, Kwon Taek Joo não havia sido informado que alguém viria recebê-lo. Abriu o celular, mas não havia mensagens — apenas o SMS enviado ao entrar em território estrangeiro.

 

Será que sua identidade havia sido exposta? Se sim, era preciso descobrir quem tentava alcançá-lo e por quê. A pessoa já sabia de sua aparência e identidade, mas ele não podia simplesmente recusar o contato.

 

Depois de refletir, Kwon Taek Joo assentiu lentamente.

 

“Por favor, me acompanhe.”

 

O funcionário seguiu em frente. Em silêncio, Kwon Taek Joo o acompanhou e colocou seus óculos de grau. Se quebrasse a haste e a puxasse, uma agulha contendo um anestésico potente surgiria. Como não podia montar uma arma naquele momento, usaria os óculos como recurso de emergência.

 

Ele saiu da área lotada dos escâneres, e o entorno foi ficando cada vez mais deserto. O funcionário caminhava na frente rumo ao elevador, checando de tempos em tempos se Taek Joo ainda o seguia. Subiram até um mezanino onde havia uma sala de espera. Não tinha nome — parecia reservada a pouquíssimas pessoas.

 

Não havia ninguém por perto naquele momento. O funcionário o conduziu até a porta fechada, bateu, fez uma reverência e se retirou. Após confirmar que ele havia descido, Kwon Taek Joo tirou os óculos com calma. Em seguida, dobrou a armação e os segurou firmemente nas mãos.

 

Ao abrir a porta, uma vista panorâmica da pista do aeroporto surgiu pela janela. E uma pessoa inesperada estava sentada ali, diante dele.

 

“Por que não coloca?”

 

Ele dobrava os óculos e os segurava com firmeza na mão. Percebeu de imediato a intenção oculta de Kwon Taek Joo — e ainda riu da situação. Era Zhenya.

 

O garoto que deveria estar na Coreia estava ali, de costas para a pista do aeroporto de Pequim. Taek Joo não conseguia entender.

 

“O que está acontecendo?”

 

“Quer beber alguma coisa? Ainda temos um tempinho antes de embarcar.”

 

Zhenya não respondeu à pergunta — apenas permaneceu sentado, relaxando. Estalou os dedos, sinalizando para que Kwon Taek Joo se aproximasse. Ele caminhou até lá como solicitado e se sentou do outro lado da mesa.

 

“Explique. Por que você está aqui?”

 

Zhenya jogou um envelope de papel em sua direção. Uma série de situações confusas. Kwon Taek Joo franziu a testa. Zhenya apenas apontou para o envelope e indicou que ele verificasse o conteúdo, enquanto servia vinho em uma taça e apreciava o aroma.

 

Kwon Taek Joo olhou para ele com desconfiança por um momento, mas acabou abrindo o envelope. Retirou os documentos de dentro e começou a folheá-los, sem esperar muito. Pouco tempo depois, seus olhos se arregalaram.

 

“Isso…”

 

Ele encarou Zhenya, como se tentasse confirmar que não estava enganado com o que estava diante de si. Zhenya ergueu discretamente o canto da boca e tomou um gole do vinho espumante.

 

Não importava quantas vezes Kwon Taek Joo relia — não havia erro. Aquele documento era o motivo de ele estar ali agora. A história completa dos últimos movimentos da Coreia do Norte estava escrita ali. De onde Zhenya conseguiu isso? Kwon Taek Joo sequer achava possível que ele tivesse usado meios legais.

 

Então… era por isso que ele não conseguiu contatá-lo antes? O ruído quando ele atendeu o telefone? O pedido de “falamos depois” por estar ocupado?

 

Com os olhos confusos, Kwon Taek Joo voltou a examinar o relatório.

 

“…Posso entregar isso?”

 

“Tem algum motivo para não funcionar?”

 

Zhenya perguntou com calma. Kwon Taek Joo se perguntou se um embaixador russo como ele poderia mesmo compartilhar informações tão livremente em benefício de outro país.

 

Claro, era só uma precaução. Não dava para assumir que tudo o que Zhenya fazia estava ligado à segurança nacional. Mas sua boa vontade podia se tornar um enorme problema diplomático.

 

A ansiedade explodia dentro de Kwon Taek Joo. Mesmo assim, não conseguia ignorar a dedicação de Zhenya para conseguir aquilo.

 

“Você aceita mesmo isso? Não vai dizer nada depois?”

 

“Só você é assim, Kwon Taek Joo.”

 

Quando foi que ele disse isso? Certamente o vento levou.

 

Enfim… e agora? Quando tudo flui de repente, o tédio vem junto. Kwon Taek Joo também não sabia como informar à sede sobre aquele novo desdobramento.

 

Durante as missões, situações intermediárias precisam ser relatadas. Isso serve para minimizar a chance de perda de informação e evitar que o agente se afaste do local da operação. Parecia certo que Kwon Taek Joo entrasse em contato, informando que chegou com segurança.

 

“Espere um minuto.”

 

Ele se desculpou e se levantou. Nesse momento, Zhenya esticou o braço e pegou o celular de Kwon Taek Joo. Num piscar de olhos, o aparelho estava dentro do balde de gelo — com vinho sendo despejado sobre ele.

 

“O que você tá fazendo!?”

 

Chocado, Taek Joo começou a resgatar o telefone. Zhenya também segurou sua mão.

 

“Vai ser problemático se você ligar pra eles.”

 

“O que você tá falando? Seu maluco!”

 

“Você não tem ética comercial nenhuma. Eu comprei um tempo pra você — e como pretende me retribuir?”

 

Já que ele havia cumprido sua parte, agora podia usar seu tempo como quisesse. Se entregasse os documentos à sede, receberia apenas elogios vazios — seguidos por uma nova missão imediata. A engrenagem giraria sem parar, como uma roda de hamster sem fim.

 

Taek Joo relaxou o corpo. Mesmo o celular — que já havia “cruzado o rio” e não podia mais voltar — parecia fácil de abrir mão. Afinal, foi graças a Zhenya que ele conseguiu aquelas informações valiosas sem mover um dedo. Além disso, por causa da ligação da sede, não pôde cumprir sua promessa na noite anterior. Talvez fosse justo atender ao pedido de Zhenya dessa vez. No fundo, ele também queria um pouco de descanso.

 

Taek Joo segurou a mão de Zhenya.

 

“Então… o que você quer fazer?”

 

Um sorriso satisfeito surgiu nos lábios de Zhenya.